terça-feira, 15 de setembro de 2009

A pálida luz da manhã de inverno

A pálida luz da manhã de inverno,
O cais e a razão
Não dão mais 'esperança, nem menos 'esperança sequer,
Ao meu coração.
O que tem que ser
Será, quer eu queira que seja ou que não. No rumor do cais, no bulício do rio
Na rua a acordar
Não há mais sossego, nem menos sossego sequer,
Para o meu 'sperar.
O que tem que não ser
Algures será, se o pensei; tudo mais é sonhar.

fonte:http://www.revista.agulha.nom.br

Mar português

Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos,quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador.
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.

fonte:www.fisica.ufpb.com

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Autopsicografia-Fernando Pessoa

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

Fonte:www.fisica.ufpb.br